14 de março de 2011

SER SÓ OU SER A OUTRA?


A mulher vive sonhando e idealizando um amor, uma paixão. Quando a idade chega e ela não o tem, porque nunca teve, ou teve e perdeu, ou apenas vive uma relação morna em um casamento estável com um amor sublime e fraternal, mas sem paixão é que o sonho vira um desejo, um devaneio, um calor que a consome, a vontade de vivenciar as emoções que uma paixão que um amor trazem... Onde foi parar aquela menina romântica e apaixonada que sentia o bater do coração acelerar, o brilho nos olhos aumentar, a beleza transparecer no rosto, no sorriso, no corpo e na alma? A felicidade de saber-se ainda mulher, sedutora, fêmea capaz de despertar paixões e desejos? Com essas questões ela parte em uma busca desesperada e determinada, como se isso fosse vital. Mas a vida lhe reserva algumas opções, emoções e surpresas.
Caso tenha um casamento, ela tem algumas opções:
• Tentar renovar o casamento e reacender a chama da paixão. Não é fácil porque depende de uma outra pessoa, o marido precisa colaborar ou complica;
• Ter um amante que provoque as sensações adormecidas e continuar casada aguardando passar esse desejo. Pouco honesto com ela e com a pessoa que partilha a vida há algum tempo. Talvez inteligente e sensata;
• Separar em busca de uma nova relação.
Separada ou sem nunca ter se casado quando a carência a atropela ela se depara com uma realidade muito cruel: só lhe é permitido viver isso com homens casados ou rapazes solteiros de pouca idade que, por curiosidade, a querem para saber o que uma mulher madura pode lhe oferecer e ensinar...
Com os solteiros e mais novos, ela pode até sonhar, mas logo será acordada porque, mesmo sendo inteligentes, carinhosos, cultos e sedutores, a curiosidade vai passar e a diferença de idade lhe traz para a realidade de uma forma quase brutal. Por isso vive essa relação sem se envolver e evita despertar os sentimentos que busca.
Com os mais maduros, inteligentes, cultos e sedutores ela logo sabe que não lhes pertence ou pertencerá jamais - são casados e ela será “a outra”, “a amante”.
Fazer o que? A família deles é intocada e a você cabe o papel da outra, muito tranqüila, compreensiva e disponível... Vai viver momentos de muito prazer, a paixão que tanto queria está na sua mão. Se sente maravilhosa... Vive um sonho breve mas um sonho... E acorda para uma realidade que não é bonita nem feliz...
Ser a outra, a amante, como isso pode ser encarado com naturalidade por alguém que sempre foi anfitriã ou que almeja ser? Por que iria ficar na sombra esperando o banquete acabar para se servir de restos? Uma rainha não perde seu cetro assim!!!
Um sábio disse: “le soberanidade d'une reine, aucun ce dans le cèdre...mais oui en elle”.

E é exatamente isso que gera conflito. A nobreza é algo interno, está na alma, na postura, nos atos, na cultura, nas crenças. Ao se contentar com isso em breve achará normal, nos acostumamos com tudo na vida até mesmo com coisas e situações que não nos satisfazem, tiram o brilho dos olhos e a nobreza de espírito -sentimento desconhecido por quem vive de restos...
Por que se contentar com migalhas em um casebre sem luz do sol quando pode se servir á vontade no banquete de um castelo cheio de vida e luz? Por que viver a margem de algo ou alguém quando pode ser o centro de tudo? Por que ficar esperado que lhe destinem vintém de um tempo precioso, ao qual não tem nenhum direito e, por isso, deve se alegrar, quanto pode ter todo um tempo dedicado a você e pedir mais a qualquer momento que a carência necessite?
Os românticos amantes diriam: pelo silêncio cheio de significado, o bater do coração acelerado, o pulsar da vida, o ficar sem palavras e tudo dizer, a beleza dos corpos que se unem, a ânsia das bocas que se buscam, para sentir a sua essência vital se perder e seu corpo se regenerar ao receber um sopro de vida puro, intenso e mágico que fazem tremer todo o universo que os cerca... Um universo particular, único e perfeito nos breves momentos que nele se instalam...
Eu questiono: Será que um coração pulsa ou sangra em uma situação desta? Será que ficamos sem palavras porque não temos com quem falar sobre o que vivemos, passamos e sentimos? Menos ainda sobre as lágrimas que rolam silenciosas na noite solitária onde a realidade lhe crava o peito sem nenhuma piedade?
Amantes românticos retrucariam: “Ou será que ficam sem palavras porque as bocas estão sendo saciadas por um beijo, que tira as lagrimas, faz sentir o coração bater em um ritmo acelerado que na noite solitária para os outros, será noite de realidade cravada no coração da lua e no peito das estrelas, ou apenas um devaneio de nossas vidas, passando como se fosse o vento entrando pelas frestas da alma, para revigorar o coração.
Retruco que na realidade nada ocorre na calada da noite que sacie a sede, nem seque as lágrimas de quem se põe a margem, quem se conforma com migalhas, quem não se ama e vive de pequenos e breves momentos de prazer, uma brisa que não refresca, um devaneio febril, noites, fins de semanas e feriados solitários... A alternativa é viver como os museus - de lembranças ínfimas que a alimente até o próximo alô via um meio de comunicação qualquer, onde mais uma vez se ilude e espera que um dia isso vá mudar... o tempo é implacável... Um dia se pega sozinha com suas lembranças e percebe que é apenas disso que viveu e vai continuar vivendo... Não houveram mudanças, apenas nela – a outra - que não acredita em mais nada, não acredita no amor, não acredita na sua capacidade de amar e ser amada, não é mais mulher, nem amante... Não é nada, apenas a lembrança do que foi um dia e a frustração de não ter tido capacidade de ter um amor e mantê-lo ao seu lado quando a melhor idade se instalar. Nunca vai poder comentar com seu amor de migalhas sobre os filhos e netos que crescem, são a sua continuação e prova de que valeu a pena viver...
Aqui entra o conflito de emoções: razão x coração porque não existe paixão na razão, nem razão na paixão. Sentimentos antagônicos permeiam a alma dessas mulheres: a segurança tranqüila de uma vida sem emoções ou a viver em uma montanha russa onde amar e sofrer são verbos que regem seu dia a dia? Escolher a racionalidade e segurança ou o coração e os anseios que ele traz? A vida sem graça e protegida ou a que alterna um arco-íris e o cinza de um dia chuvoso? Não ter netos e filhos que lhes perpetuem e ter lembranças deliciosas da vida que viveu ou olhar seus netos e filhos e desejar que eles sejam mais audaciosos do que foi e por isso mais felizes?
Não existe uma única resposta para essas questões, cada ser humano é único e livre para realizar suas escolhas. Apenas o momento, a forma como vive e sente a vida vão determinar como ela será vivida. Escolhas nos são pedidas a todo instante e viver momentos inusitados de sonho e talvez sofrer ou se manter íntegra na racionalidade e segurança e talvez feliz, são conflitos que se unem e formam a grande pergunta: o que vai sobrar quando o tempo/idade versus viver/passar pela vida versus segurança/aventura já tiverem sido determinadas e vivenciadas? Alguém pode responder?